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11 de julho de 2010

Lua de Sangue - Parte II

É aconselhável ler a primeira parte de Lua de Sangue.

Outra noite. Outra caçada. Há uma semana que não saía para caçar, não tinha vontade e sabia que continuavas a observar-me, a estudar os meus movimentos. Fazia exactamente uma semana que não te via, mas a minha fome estava tão incontrolável que ver-te apenas despertaria ainda mais a minha luxúria.

Nessa noite, escolhi como destino um bar na vila. Ninguém me conhecia e não teria de me preocupar com nada. Os humanos eram tão idiotas que bastava estar um pouco mais produzida que nem sequer precisava de os induzir a fazerem nada do que queria, eles faziam de livre vontade. Era isto que tirava toda a efervescência de uma boa caçada.

Entrei e os olhos das dezenas de pessoas junto ao balcão desviaram-se para a minha direcção. É interessante como nós os vampiros temos tanto impacto sobre os humanos. Parecem corvos atraídos por brilhantes. É interessante como somos tão estranhamente atraentes, como o nosso cheiro os excita e os trás até nós como ovelhas.

Olhei em redor e o meu olhar pousou no canto do balcão. Ali estavas tu. Olhaste na minha direcção. Que estranha sensação. Naquela noite, só queria dançar e gastar as minhas energias ali sem mais nada. Assim que comecei a dançar lentamente, alguns dos homens que estavam perto do balcão começaram a aproximar-se de mim. Olhei-os com desprezo e o meu olhar continuou fixado em ti.

“Vem…” – pensei.

Contigo não queria usar nenhum dos meus poderes, porque não era com batota que gostava de conseguir as coisas. Pouco depois, levantaste-te e vieste ter comigo. Seguraste-me na mão e puxaste-me até uma das mesas.

O teu toque desperta-me os sentidos e o teu perfume continua a causar o efeito que mais temo. Contudo, nada podia acontecer, revelar a minha identidade ali seria demasiado arriscado. Sentámo-nos num canto, de frente um para o outro.

- Que fazes aqui? – perguntaste.

Olhei para as pessoas no bar. Que resposta lhe dar? Sangue…prazer…ali estava tudo o que procurava naquela noite. E tu também estavas ali.

- Porquê que não olhas para mim? – questionaste. – Estás a debater-te?

Olhei-te nos olhos. Com a boca ainda fechada, passei a língua pelos caninos e baixei o olhar.

- Fala. – paraste – Mexes comigo…

- É normal, isso é porque sabes o que sou… - respondi, levantei-me e sai dali.

Vieste atrás de mim. Agarraste-me pelo braço e puxaste-me. Não resisti.

- Porque estás sempre a fugir de mim? – disseste sem te aperceberes que estávamos sozinhos num beco e aquela poderia ser a tua última noite.

- Estás sempre a seguir-me porquê? – Repliquei. – Queres morrer? É isso?

O teu dedo pousou sobre os meus lábios.

- Não me matarias…faço-te sentir viva. – sussurraste.

Empurrei-te contra a parede e vi como tinha doído.

- Odeio-te.

Sorriste.

- Mas não consegues matar-me…e isso corrói-te. Vejo-te a debateres-te contra a tua sede.

Não sei onde tinhas ido buscar tanta confiança naquela noite para me falares daquela maneira. Mas tinhas razão. Estava a olhar para a tua boca como ela se movia enquanto falavas e o pescoço exposto...Queria morder-te, sentir o teu sangue fluir nos meus lábios, lamber a ferida até estar seca e no entanto, estava paralizada. Não conseguia…

- Pára. – disse afastando-me, calando os meus pensamentos. – Já matei tanta gente. Não imaginas. Não consegues imaginar sequer o prazer que isso me provoca…

- Os teus olhos mostram-me a sede que tens dentro de ti. Estão a mostrar-me como tudo queima ai dentro de forma intensa e incontrolável. Estás a controlar-te. No entanto, se fugir agora tu virás atrás de mim, está no teu instinto… - Parecias tão calmo.

Os meus olhos voltaram a pousar nos teus. Aproximei-me com o intuito de algo que fizesse acalmar o meu desejo. Não consegui. Dei um salto subi a varanda por cima de ti. Continuei a subir até ao telhado e deixei-te cá em baixo a olhar para mim. Estúpido mortal.

Era complicado lidar com a situação. Tudo em ti me chamava veementemente, tudo em ti me deixava inquieta e no entanto, não conseguia reagir. Tinha medo que nos voltássemos a tocar, medo que despertasses em mim algo que não iria conseguir controlar. Medo de te querer tanto. Desejar-te como a nenhum outro. Medo de ser fraca demais para controlar a minha fome. Mas, quando o teu cheiro me invadia e me tocavas eram os sentidos que mandavam e era difícil a cabeça interferir. Eu era um animal. Sem o meu lado humano, seriam os meus impulsos a comandar, seria escrava da minha vontade, sem dor e sem culpa. Vítima de um prazer sem renome. Ou talvez prisioneira de um amor com o teu nome tatuado na pele…

Cláudia Melim

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Cláudia Melim.
Fotografa de moda & fantasia em Wicked Wonderland Photography. Residente em Lisboa.

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